Mundo Digital para crianças & adolescentes: apresentar logo ou apresentar na hora certa?
A Sociedade Brasileira de Pediatria divulgou no último dia 08/11 um manual de orientações chamado “Saúde de Crianças e Adolescentes na Era Digital”.
Trata-se de uma sucinta mas importante orientação para pediatras, crianças & adolescentes e pais, sobre o uso adequado de Tecnologia da Informação e Comunicação (TICs). Traduzindo: uso de artefatos tecnológicos (celulares, smartphones, tablets, desktops, notebooks, consoles de games, entre outros) e acesso aos meios digitais (internet, redes sociais, jogos eletrônicos, entre outros).
Bem, qual a importância desse manual que, na verdade, transmite um alerta sobre saúde?
Trazer para a sociedade uma discussão sobre dois fatos principais: perdemos o controle sobre a interação online e não consideramos a necessidade de educação digital.
Vou exemplificar com uma pequena história: minha filha mais velha, agora com 4 anos, teve o primeiro acesso a smartphone e tablet com 3 meses. Onde? No consultório da pediatra! Minha filha se incomodava muito ao ser examinada. E a pediatra (que é muito competente, de verdade) sacou um smartphone com uma galinha azul por quem minha filha já era apaixonada. Imediatamente minha filha “sossegou” e se encantou pela galinha + o smartphone! Dois meses depois eu troquei meu smartphone por um melhor e baixei vários “apps de sobrevivência” de uma mãe de primeira viagem.
Mas a mesma tática não deu certo com a minha segunda filha. Por um motivo inexplicável, ela só passou a se interessar pelo smartphone após 2 anos. Porém, no momento em que ela “decidiu” interagir com os gadgats, não foram necessárias nem 2 semanas pra ela se ambientar muito bem.
Minha filha mais velha? Ah, me ensinou, depois de alguns meses, a manusear melhor o meu próprio smartphone. E, ver a rapidez e facilidade de interação dela com aquele aparelhinho, me levou a estudar os motivos reais dessa fascinação e encantamento provocado em crianças e adolescentes.
Bem, esses exemplos, do consultório (agora sei que nem um pouco bom) e das minhas filhas, me levaram a uma reflexão que compartilho sempre nas consultorias com escolas e famílias sobre Educação Digital: para “se dar bem” no mundo online o mais importante é ter acesso o mais cedo possível ou acesso na hora certa?
Aqui fica a minha dica, que é mais antiga do que o manual da Sociedade Brasileira de Pediatria:
crianças e adolescentes devem interagir no mundo “online” no momento adequado, de acordo com a capacidade de raciocínio de cada faixa etária, de desenvolvimento emocional de cada um (não há demérito no filho do amigo conseguir e o seu ainda não) e respeitando a classificação etária para uso de cada aplicativo. E, o mais importante, com educação digital. Não diferentemente da educação off-line, a educação digital começa em casa!
Por educação entenda-se:
Transmitir os valores que a família deseja;
Repassar as informações que são mais importantes para formação ética e moral (respeitar a opinião das pessoas, não prejudicar a imagem de amigos ou familiares, não usar de violência, respeitar o espaço e os limites sociais, etc);
Determinar o tempo e o modo de acesso, será assistido ou livre?;
Conversar sobre os ganhos e prejuízos como consequências das nossas atitudes e decisões, seja no on ou offline;
E, o mais importante: refletir a respeito de qual exemplo estamos apresentando para as nossas crianças & adolescentes sobre comportamento digital.
Essa educação digital receberá um reforço no ambiente escolar. Nas escolas, trabalhamos a vivência digital em sociedade, orientamos sobre os conteúdos adequados e direcionamos a interação para reduzir ao máximo os chamados “incidentes digitais”.
Eu acredito que essa realidade digital, ou seja, a vida muito conectada, não tem volta. Porém, como nos comportaremos e como ensinaremos nossos filhos sobre comportamento digital depende somente de nós. Para o bem ou para o mal.
E você? Se sente preparado para melhorar seu comportamento digital e ajudar seus filhos nessa jornada?
